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quinta-feira, 20 de maio de 2010

SONÍFERA ILHA


Há quase vinte e cinco anos atrás, estava para inaugurar em Manaus, num terreno localizado à Av. Djalma Batista, esquina com Av. Darcy Vargas, onde hoje é o Amazonas Shopping, uma casa de shows chamada “ Brilho “.
Foi durante certo tempo, na verdade, uma grande máquina de fazer dinheiro pois, no lugar havia apenas um grande galpão com cobertura metálica e chão de areia. Nada do que imaginaríamos como instalações para uma casa de espetáculos.
Entretanto, naqueles tempos, um show de banda ou cantor nacional aparecia por aqui, se muito, apenas uma vez por ano e, ainda assim, na distante boate do Hotel Tropical.
Ter um local que prometia shows uma vez por mês mais próximo ao centro da cidade era uma perspectiva excitante para os adolescentes da época.
Mais ou menos no mesmo período, uma tia entrou em contato com minha mãe, pois conhecidos de conhecidos, que moravam em São Paulo viriam à cidade e haviam manifestado vontade de experimentar um conhecido prato local, o qual ela sabia prepar como poucos: a tartarugada.
Naquele momento, sem grandes questionamentos preservacionistas, era muito comum oferecer este tipo de iguaria aos visitantes de outros locais do país.
Minha mãe, sem grandes problemas, se prontificou a cumprir a tarefa.
O animal era um dos grandes. Banquete para várias pessoas. Picadinho, ensopado, farofa no casco, sarapatel ...
Havia crescido vendo o abate e preparo do pobre quelônio. E, apesar de ser um ritual familiar, nunca fui muito de experimentar comidas à base de sangue e carne escura. No máximo, um picadinho com farofa.
Morava na Rua Luiz Antony, entre Leonardo Malcher e o Bairro da Matinha. Trecho de rua sem saída, onde jogávamos futebol no asfalto, tomando banhos de chuva. Era a terceira casa de uma vila familiar com quatro unidades. Em duas das quais moravam primos de minha mãe.
Lembro dela em grande alvoroço. Fazendo tudo sozinha, pois não tinha ajudantes. Apenas pelo prazer de cozinhar.
Minha rotina, neste dia, não se alterou. Escola de manhã, no Instituto de Educação, há umas poucas quadras de caminhada, atravessando a Praça da Saudade.
Após o almoço, aquela tradicional dormidinha antes dos deveres do colégio.
Porém, nesse dia, ao sair à rua, à tarde, praticamente toda a vizinhança estava me esperando do lado de fora.
Meio sem entender o que havia acontecido, o porque de tanto alvoroço.
Todos me perguntando como eram “ eles “. Se tinha tirado fotos e pedido autógrafos.
Ainda sem entender o que se passava, pedi esclarecimentos.
Alguém me disse que dois carros haviam parado na porta de casa e de lá sairam os componentes da banda de maior sucesso do rock nacional no momento: “ Os Titãs do iê-iê “, como eram chamados. E entraram.
É, as bandas tinham nomes compridos, que foram sendo abreviados pelos fãs e acabaram adotados pelas bandas: “ Kid Abelha e os Abóboras Selvagens “, virou “ Kid Abelha “. “ Os Titãs do iê-iê ”, viraram “ Os titãs “, simplesmente.
Quase entendendo o que havia acontecido, entrei rapidamente e perguntei à minha mãe se ela havia acabado de preparar o banquete.
Ela disse que sim e que os rapazes já o haviam buscado. “ Uns caras meio malucos, de óculos escuros. Uns cabeludos e outros com cabelos raspados “ ...
Ao que parece, um dos componentes, Branco Melo, se não estou errado, é filho de Almino Afonso, ex-governador de São Paulo, que é natural do Amazonas.
Eu tinha o primeiro vinil deles, aquele disquinho compacto, com uma música de cada lado. A que havia estourado era “ Sonífera Ilha “. Fenômeno das rádios e dos programas de auditório de televisão dos Sábados à tarde. Uma das músicas mais executadas do ano no Brasil.
Talvez um autógrafo no disquinho valesse hoje um bom dinheiro. O mesmo que perdi para uma amiga fã, Leila, anos mais tarde, no Rio de Janeiro. Era o que faltava para ela completar a coleção.
“ ... Sonífera ilha, descansa meus olhos, sossega minha boca, me enche de luz ... “

“ Os Titãs “ na minha casa e eu estava dormindo ...

2 comentários:

  1. Prezado Erê,
    Estou gostando muito do seu BLOG.
    Muita coisa q vc escreve me remete ao passado. Parabéns!!!
    Abçs
    Igor

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