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quinta-feira, 20 de maio de 2010

MUDANÇAS DA TECNOLOGIA


Já vivi em dois milênios diferentes, dois séculos, cinco décadas e apenas trinta e oito anos. Já dá pra sentir o tempo passando. Limites da idade chegam aos poucos ou demoramos mesmo para percebê-los.
Fôlego, flexibilidade, disposição, resistência e metabolismo efetivamente não são os mesmos de antes. Segurança, inteligência, raciocínio, bom humor são bem melhores, é verdade. Há de se ter conceções e, também, compensações. Entretanto, percebe-se que neste período houve mudanças significativas na tecnologia.

Quando adolescente, fiz curso de datilografia, em máquina mecânica. Elétrica, até já existia, com corretor que voltava e suprimia os erros dos textos com uma fitinha branca. " ASDFG ". " HJKLÇ ". Uma letra para cada dedo. Em dias com muitos alunos, sobravam aquelas que pareciam dos tempos de nossos avós, as mesmas que ainda vemos em filmes antigos, em p&b. Duas cores, o preto e o vermelho, na fita que sujava as mãos quando trocadas. Letras maiúsculas e minúsculas. Bastava apertar o avô do shift. Final da linha, empurrava-se o carrosel de volta para o ponto de origem. Barra de espaço grande e centralizada, como ainda são os teclados de hoje. Ganhei uma portátil, da Brother, coisa de uns cinco quilos e que até tinha espaçamento automático.

Depois, fiz o primeiro curso de introdução à computação da cidade, linguagem BASIC, no Instituto de Métodos Estatísticos e Computacionais - nome pomposo. Se desenvolviam páginas com várias linhas de comando para se chegar a um " programa " que somava o resultado de " um mais um ". Tela verde, de fósforo. Sem imagens. Apenas códigos, letras e números. Máquinas de última geração. Vídeo integrado ao teclado. Prológica CP 500, TK 3000, da DISMAC.

Calculadora Casio " mini ", com mais ou menos uns quinze por cinco centímetros, que comprei na Moto Importadora e nem ao menos fazia raiz quadrada.
A primeira vez que vi um vídeo game foi na casa de um colega de " ginásio ", lá pela quinta série. Uma barrinha vertical " jogando tênis " com outra, separadas por uma terceira, maior. O incrível, é que reproduzia nossos movimentos na tela da TV. Eu não queria mais voltar pra casa. Depois veio o Atari com seus space invaders, rali e pac man. Hoje, o playstation III, de R$ 3.000,00, o XBOX e o WII.

Mais tarde, ao entrar na faculdade, me deparei com os avanços da linguagem FORTRAN. Mesmas muitas linhas para se chegar aos mesmos poucos resultados. Com uma diferença fundamental: Já era possível ter impresso em mãos aquilo que só víamos na tela. A Universidade tinha uma leitora de cartões, que cabia em uma sala. Estes, semelhantes aos cartões de loteria esportiva, perfurados estrategicamente, de modo a transmitir os dados. Tudo mecânico. Nada ótico ou digital.

O programa para somar " um mais um ", tinha umas quarenta linhas, que correspondiam a quarenta cartões, que deveriam ser dispostos em ordem lógica. Havia a necessidade de juntar o programa de diversos alunos para chegar ao volume passível de leitura. Não raro, tínhamos que procurar os pedaços dos programas que eram devolvidos incompletos ou tentar identificar os autores dos excedentes.
Certa vez, deixei cair no chão e tive de retornar ao computador para recompor a sequência. Mas, tudo bem. Já eram geradas listagens em impressoras matriciais de cento e oitenta colunas.
Mais um salto e a linguagem PASCAL. O primeiro curso de programa gráfico. Podia-se desenhar linhas no computador. Bem mais fácil, era desenhar na mão. Papel vegetal e poliéster, caneta nankin e borrachas de areia.
A tela ainda era verde, mas se podia armazenar os dados em disquetes de 5 1/4", pretos e flexíveis. Problema era conseguir guardar dentro do caderno, sem dobrar. O mesmo foi subtituido pelo revolucionário disquete rígido, com 3 1/2 ". Capa dura e colorido.

Faculdade da Cidade, Rio de Janeiro. Curso de Autocad. Versão 11, for DOS. Avô do windows. Necessário mesa digitalizadora. Periférico que, ligado ao computador, possibilitava clicar, através de uma caneta " ótica ", nos comandos desenhados e executar os passos que eram reproduzidos na tela. Quase como o vídeo game lá de trás.

Último estágio que fiz antes de formar. No escritório existia " rede ". Com dois computadores, conectados através de um cabo comum. Podia-se visualizar a execução de projetos em ambos. E trocar dados. Nem sempre eficiente. Vi dois arquitetos adultos à beira do choro, por terem perdido trabalho de dois dias, no momento da transferência.
Cartas, gostava de escrever e de receber. A excitação de recebê-las das mãos do carteiro, de colecionar os selos, que eram cuidadosamente retirados no vapor. Falavam de diferentes povos e culturas. De seus costumes, sua fauna, moeda e flora. O papel, era colecionável. Pela caligrafia, podia-se perceber o estado de espírito do autor. A data de postagem, no carimbo. Assim eram também os cartões de Natal. Pessoais, mesmo que impressos. Apenas com um " é o que desejo de todo coração "  manuscrito, além da assinatura. Telegramas, guardo alguns. TELEX, não cheguei a usar.

Nem lembro quando escrevi a última carta e nem pra quem foi. O e-mail, se incorporou como forma de comunicação e também não lembro quando foi o primeiro. Sei que ficávamos em " bate-papos " intermináveis com pessoas estranhas, no computador do Chun-i, não sei como, pois não havia Internet, na época.
Primeira navegação, também não sei. Sei do Orkut, que tem uns poucos meses. Deste, cheguei no myspace, onde todos podem ser escritores, escolher trilhas sonoras e mostrar o álbum de fotografias, digitais, é claro. Ainda deconfio da utilidade do second life.

Dia desses, sem querer, fiquei on line com uma amiga, em Fortaleza, com quem não falava há uns anos. Do Orkut, passamos pro bate-bapo do G-mail. E deste, acabamos nos falando no Skype, o mesmo que deverá enterrar a EMBRATEL, provavelmente a única sigla em portugês deste texto.
Sei dizer que foi emocionante falar com ela, como se tivesse usando um telefone pela primeira vez. Ainda que com sua imagem estática, já que não tinha uma web cam. Eu tinha. E pude me ver de cabeça baixa, durante hora e meia de conversa. Me recuso, terminantemente, a usar o Internetês, que transforma " não " em " naum ". " Pô " em " Pow " e desvirtua a intenção de se economizar caracteres, além de criar linguagem, às vezes, totalmente incompreensível.

Fui do tempo, quando criança, da TV TOSHIBA, preto e branco, onde se trocava o canal, através de um seletor que girava. Tive uma " digital ", com 12 canais da SHARP, a primeira colorida, com teclas sensíveis, onde se encostavam os dedos. No dia em que ela chegou, quase desisti de um final de semana com piscina.

Ganhei, depois, uma com controle remoto, possível de trocar os canais à distância, sem esticar o pé. Certa vez, um primo foi dormir na rede em frente à minha cama e, quando ele se deitava, troquei o canal, inadvertidamente, por baixo dos lençóis. Ele se levantou, pensando ter sido o " punho " da rede o responsável pela proeza. Ao perceber a situação, troquei o canal de novo, cada vez que ele tentava se deitar. Na terceira vez, não pude me conter e comecei a rir. Hoje, tenho uma tela plana e estou cogitando uma LCD, pois a de plasma já está deixando de ser produzida.

Sou da geração vinil. Comprei e tenho uns tantos Long Play's e alguns compactos. Tive um " três em um " da  PANASONIC, com rádio AM e FM, toca-discos e fita cassete dupla, onde gravava as músicas preferidas. Às vezes, ela travava ou enrolava. E, aí, tinha que desmontar para resolver o problema. Chun-i comprou os primeiros CD's que ouvi. Hoje tenho MP3, pensando em MP4.
Telefone, já não era preto. Era bege, também com disco. Daí, a expressão " discar o número ". Igual a " puxar a descarga ", que hoje também se aperta.
 

Celular, um " tijolo flip ", modelo elite, da MOTOROLA. A gente se inscrevia na companhia e uns seis meses depois era contemplado. Fiz isso umas três vezes, pois nunca tinha dinheiro no ato e passava meu direito adiante.

Sempre pensei que um telefone deveria realizar e receber chamadas, assim como a " máquina fotográfica " deveria tirar fotografias. Porque exigir de um telefone que tirasse fotos, já que a máquina não fazia chamadas? Mas acabei me rendendo. Tenho um telefone que tira fotos, tem jogos eletrônicos, faz filmes, ouve rádio FM e MP3, passa e-mail, é despertador e bloco de notas. Bem prático. Só não conversa comigo quando estou deprimido. Tudo, uma questão de tempo.

Falando nisso, quando criança, achei uma ROLLEIFLEX nas coisas de minha mãe. A mesma da música, que tinha duas lentes numa caixa retangular vertical e que, em vez de se olhar o foco para frente, se olhava para baixo. Estranha maneira. Jogo de espelhos. Até hoje, me arrependo de não tê-la guardado. Tanto quanto de não ter comprado os móveis art-déco da tia de meu pai. Verdade que, aos dez anos isso não era muito possível. E ainda não sabia que, um dia, seria arquiteto.

Depois, meus pais compraram uma OLYMPUS TRIP, a mais usada na época. A mesma que minha mãe tentou me doar recentemente. Não pude aceitar, devido à ferrugem e aos fungos. Mas, pensando bem, ela já é a ROLLEIFLEX de hoje. E amanhã mesmo vou falar com ela. Ainda tive uma YASHICA, sem redução de olhos vermelhos, mas com rebobinamento automático. Câmera digital já é um desejo, mas aguardo um consenso entre preço, zoom e megapixels. Enquanto isso, o telefone vai quebrando o galho.

Trazer cinema, que tanto gosto, para dentro de casa era um sonho quase impossível. Mérito do vídeo cassete, ou VCR. O primeiro vídeo-clube da cidade, no centro, tinha condições exorbitantes. Para a inscrição, eu devia doar para o acervo dois filmes, em VHS ou BETAMAX. A SONY perdeu a parada.
A possibilidade de rever um filme quantas vezes quisesse era tremendamente excitante. Ainda lembro do primeiro, " Eu Christiane F... ", história de uma adolescente viciada em heroína, que curtia David Bowie, na Berlim dos anos 80. Já de volta à Manaus, em um de meus primeiros empregos, meu chefe convidou a turma do escitório para uma happy hour em seu apartamento.

Fui apresentado ao vídeo disco. O famoso bolachão. Disco digital do tamanho do vinil. Lembro de não ter comido, nem bebido nada. Passei a noite em companhia da Mariah Carrey, na época em que ela cantava vestida. DVD com zoom, que lê CD, MP3, HDCD, MPEG, JPEG, com função KARAOKE, e uns tantos outros símbolos. Já se fala em HDVD e BLUE RAY.
Fato que os sons, as imagens e a comunicação mudaram drasticamente nessas poucas últimas décadas. Outro dia, li um artigo de revista semanal, impressa, que falava deste contraste, onde as gerações mais antigas diferem das mais novas pela necessidade de possuir e de pegar os discos e livros, guardar cartas e cartões. E que as mais novas os possuem apenas de maneira virtual.

Diante deste quadro, o tempo parece mesmo estar passando. Os trinta e oito anos são apenas detalhes. Dos dois milênios e séculos e cinco décadas em que vivi.

Escrito em 2006 ...

5 comentários:

  1. Oi Heraldo! Qunto as novas tecnologias, estou meio assustada com essa última: criar vida em laboratório.
    Até o celular, que pra mim é o 666 ( sim, são joão era analfabeto, teve visões, viu o 3G , achou que o G era o numero 6, na hora de contar para o escriba, o escriba escreveu 666. Afinal, se "só pode comprar ou vender quem tiver 666 no pulso ou na fronte" é ou não é o celular que todos carregam na mão ou na cabeça? e já muita gente acessa banco, internet, vê preços no celular...
    é... enfim. Fazer vida é assustador.
    Tenho de pensar sobre o assunto.
    Ontem fui ao fundão! e falei em você!

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  2. AA! Mais uma coisa. Que telhado lindo!! é madeira? adorei!

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  3. HERALDO, PARABÉNS PELO BLOG.
    ABRAÇO.
    CLAUDEMIR ANDRADE

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  4. Oi primo, adorei ler sua crônica, veajei no tempo junto com você e por várias vezes me peguei rindo das várias situações que passei iguais as suas. O tempo passou muito rápido e as mudanaças foram tantas que chegava a achar que não ia conseguir acompanhar...mas que nada, tudo acontece tão naturalmente que não consigo mais me imaginar usando as "tecnologias"antigas...mas foi graças as minhas aulas de datilografia que hoje digito muito melhor que muito neguinho metido a saber tudo de computação...Suer beijo..

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  5. Heraldo,
    Adorei a matéria. É, estamos ficando velhinhos...rs
    Eu comprei na épocao "Tijorola" por U$4.000.
    Recebí do dono, um médico, um documento registrado em cartório.
    Hoje, você vai ns lojas Americanas e sai falando.
    Em 1998, na Copa recebíos amigos pra ver os jogos do Brasil em uma TV Philips 33". Hoje, sem comentários...
    E, assim vai. Como as coisas estão rápidas.

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